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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O Abutre

Título Original: Nightcrawler (EUA , 2014)
Com: Jake Gyllenhaal, Rene Russo, Bill Paxton, Riz Ahmed e Ann Cusack
Direção e Roteiro: Dan Gilroy
Duração: 117 minutos

Nota: 5 (excelente)

Quais são os limites da exploração das tragédias humanas no jornalismo? Esse é um dos temas de “O Abutre”, estreia na direção de Dan Gilroy. Ele já escreveu alguns roteiros, inclusive junto com seu irmão Tony como “O Legado Boune” que Tony dirigiu. Na verdade o foco principal é a falta de ética e limite do protagonista Lou Bloom, interpretado de maneira brilhante por Jake Gyllenhaal.


Lou é um rapaz solitário que ganha a vida com pequenos roubos. Um dia ele vê um acidente de carro numa rodovia de Los Angeles e descobre um nicho de mercado: pessoas que ficam atrás de crimes e acidentes para filmar e vender os videos para emissoras de tv. Ele vê nisso uma oportunidade de ter um emprego e uma renda mais confiável.

O noticiário americano não é muito diferente do brasileiro, mas a realidade é um pouco diferente. Mas por aqui existe também uma exploração sensacionalista de jornais como Brasil Urgente com Datena na Band ou Cidade Alerta da Record. Quem é de Salvador talvez lembre recentemente do programa Na Mira da Tv Aratu (que transmite o sinal do SBT) com o apresentador Uziel Bueno que mostrava cenas bastante chocantes de crimes e bombou na audiência e em polêmica. Como falei no início do texto, quais são os limites da ética da exploração desse tipo de notícia? Se tem audiência e o povo gosta, o que fazer?

O objetivo do filme talvez não seja responder essas perguntas, mas justamente mostrar o lado do personagem Lou Bloom que do seu jeito sem limite e ética faz de tudo para conseguir uma melhor imagem de um crime, seja mexendo na cena para compor melhor o visual ou até mesmo entrando nos lugares antes da polícia chegar. Ele é capaz de passar por cima de qualquer coisa ou pessoa para alcançar seu objetivo.

A interpretação de Gyllenhaal é o grande destaque. Ele compõe o personagem de maneira brilhante e talvez esse tenha sido seu melhor papel até então, apesar dele usar um pouco dos trejeitos de personagens anteriores. Lou Bloom não tem uma “educação formal”, mas obtém informações e as repete sem pensar muito na Internet. Aos poucos ele vai virando um especialista em crimes, sabe os códigos da polícia, o trânsito da cidade, tudo que possa ajudar no seu trabalho. E sua relação com as pessoas e o jeito que ele “negocia” (ou seja chantageia) as pessoas é ótimo. Vemos essa relação com o seu ajudante (Riz Ahmed) e com a diretora de uma emissora de tv (Rene Russo).
O filme é um excelente drama e um ótimo estudo de personagem, além de ter partes bem tensas e de suspense com direito até a perseguição de carro. Dan Gilroy estreia muito bem na direção e ainda conseguiu dar um ótimo papel para sua esposa Rene Russo, que fez ótimos filmes de ação nos anos 90 como Máquina Mortífera 3 e 4. Apesar de não ser um tema novo, os limites do jornalismo, ele consegue mostrar um ponto de vista bem interessante que não oferece respostas e sim questionamentos e pontos de vista dos envolvidos.

Um comentário:

Marcio Melo disse...

Excelente sem dúvidas, tanto a atuação de Jake quanto a "crítica" que o filme deixa sobre esse ciclo terrível do jornalismo sensacionalista (que existe porque muita gente consume) fazem deles um produto diferenciado apesar do tema, como você citou em seu texto, não ser novo.