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terça-feira, 17 de outubro de 2017

Blade Runner 2049

Quando “Blade Runner 2049” foi anunciado, a principal questão levantada foi: ele era necessário? Talvez não, considerando que o filme de 1982 de Ridley Scott é um clássico cult que influencia até hoje. Contudo, com a definição de que o diretor do longa seria Denis Villeneuve, a curiosidade e a chance de se apresentar algo realmente interessante surgiu. E o diretor entrega um trabalho fascinante, que expande o universo da história de forma muito eficaz sem deixar de lado a nostalgia em torno do primeiro. Esse novo Blade Runner consegue ao mesmo tempo respeitar o filme original e também seguir o seu próprio caminho em suas próprias pernas.

A história se passa 30 anos após o primeiro filme. Dessa vez iremos acompanhar o trabalho do caçador de andróides K (Ryan Gosling). Novos modelos de replicantes foram projetados que não são mais capazes de se rebelar, mas ainda existem alguns antigos soltos. Em uma missão rotineira, K encontra com Sapper (Dave Bautista) - um replicante antigo - e a partir desse encontro surge uma investigação que vai levar o protagonista a Deckard (Harrison Ford). Mas até chegar lá o longa vai criando uma expectativa incrível até a aparição do antigo personagem.

No filme original existe uma sugestão de que Deckard também seria um replicante, mas ele não tinha consciência disso. No longa de Villeneuve o protagonista K é um replicante e sabe disso. No desenrolar da trama ele descobre que pode ser que ele não seja um androide, ou que seria algo diferente dos outros o que o tornaria especial. Essa inversão de papéis no conflito dos protagonista dos filmes é algo bem interessante e sabiamente explorado pelo roteiro. E esse conflito é apenas uma das camadas do longa.

O roteiro de Hampton Fancher - também roteirista do filme original - e Michael Green aposta mais na criação de uma atmosfera dentro do universo do longa do que propriamente em uma narrativa. A história segue bem a cartilha dos filmes noir onde o detetive investiga um crime e vai encontrando aos poucos pistas que o levam a caminhos perigosos. É isso que acontece com K. A cada nova pista ele vai mergulhando mais fundo nesse universo e o espectador vai junto com ele, sem pressa.
Enquanto isso no pano de fundo da narrativa vão surgindo diversos temas interessantes. E o longa os explora muito bem sem usar diálogos expositivos apostando principalmente da parte visual e da trilha sonora para criar uma imersão dentro do universo. Além disso, a história também explora questões existenciais muito boas como o que nos torna humanos, principal temática do filme. Dentro disso temos as memórias, comportamento e até mesmo o amor.

Esse último é explorado de forma muito inteligente e lembra um pouco o filme “Ela”. K tem uma namorada artificial e holográfica chamada Joi (Ana de Armas). A relação entre eles é fascinante já que o protagonista se sente muito mais a vontade para conversar com ela do que com qualquer outra pessoa, seja ela humana ou andróide. Ou seja, temos uma relação entre dois tipos diferentes de inteligência artificial. Seria isso possível? Afinal de contas o que define o amor entre duas “pessoas”?

O filme dá espaço para todos os novos personagens que vão surgindo na tela. O elenco é muito bom e os atores fazem a diferença com suas atuações. A começar pelo próprio Ryan Gosling que constrói K como uma pessoa aparentemente fria e sem sentimentos, mas aos pouco vemos que talvez ele seja o mais humano a aparecer na história. A relação entre ele e Joi explora isso muito bem.

Já o vilão Niander Wallace, interpretado por Jared Leto, é o dono da empresa responsável pelos novos replicantes. Seu objetivo é criar andróides cada vez mais perfeitos. O personagem representa bem o papel das corporações dentro da sociedade que não parecem muito preocupadas com o impacto do seu “produto”. Sua última criação é Luv, e a atriz Sylvia Hoeks a transforma em uma mistura do lado ameaçador de Roy Batty com a sutileza, charme e elegância de Rachael, personagens do 1º filme.
A parte técnica impressiona com uma qualidade absurda, principalmente a fotografia - apesar do 3D atrapalhar deixando o filme mais escuro - e a trilha sonora. O visual recria e aprimora de forma fantástica o universo do filme original. Até mesmo detalhes como propagandas de empresas que hoje não existem mais - como a companhia área Pan Am - foram mantidos. O diretor de fotografia Roger Deakins faz um trabalho incrível ao apresentar a cidade em tons escuros e cinzas de um mundo frio e sem cores. Já a trilha sonora de Benjamin Wallfisch e Hans Zimmer explora alguns temas de Vangelis, compositor do 1º filme, com alguns sons com volume alto - sinalizando o perigo e tensão - que lembram “A Origem”, também composta por Zimmer, com o silêncio para criar expectativa e mistério.

No final das contas, Denis Villeneuve surpreende por conseguir criar um filme novo e autoral que consegue ao mesmo tempo expandir o universo de Blade Runner utilizando a mesma temática e também apresentar uma nova história seguindo o estilo autoral do diretor. Com 163 minutos o longa constrói uma narrativa de forma gradual, apresentando os personagens e criando uma atmosfera em torno da história. E quando finalmente chega o encontro com Deckard, passado e presente se unem de forma orgânica e perfeita, transformando “Blade Runner 2049” em uma experiência única e excelente.

Título Original: Blade Runner 2049 (EUA, 2017)
Com: Ryan Gosling, Harrison Ford, Ana de Armas, Sylvia Hoeks, Robin Wright, Mackenzie Davis, Carla Juri, Lennie James, Dave Bautista e Jared Leto
Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Hampton Fancher e Michael Green
Duração: 163 minutos

Nota: 5 (excelente)

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